sábado, 20 de abril de 2019

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Nossa música


Uma vez atendido o alarme falso da sineta noturna - não há mais o que remediar, nunca mais.
KAFKA, Um médico rural

Na fila da casa noturna
(ao menos uma vez por dia, toda casa é noturna),
rapazes e moças voejam  
como moscas atraídas
não pela luz ultravioleta –
a beleza possível de uma impossível luz negra
(nalgum lugar de SP, hoje em dia ou em 1970) –,
atraídas, talvez, pela promessa de uma cor ainda mais obscura –
agora a beleza possível de uma luz invisível
(a cor da cidade – o ultraviolência) –,
cor além do espectro insensível,
chegando às raias do martírio – acima, o teto de todos –,
cor sob a qual o piche borbulhante dos nomes,
passando pelos estados som, dança, pele, rua,
galvaniza-se num só órgão adjacente ao asfalto:
homem.

Fora, no entanto, o relento é febre, no concreto;
doenças do corpo e da alma os únicos rebentos
de relações sem proteção – todas o são, mesmo
se resultam em carnes e esqueletos...

Assim, (d)o nada assoma: no som onipresente,
(o) tudo, só,
some... apesar de alguma ternura, ainda,
no álcool de um primeiro beijo
ao som da nossa música.


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