quarta-feira, 24 de agosto de 2011

poema de cabeceira

..
,,
uma criança chora na madrugada
até o décimo segundo andar
até parar
exaurida
pois o prédio permanece noite
a luz elétrica não responde
em janelas de vidro maciço

na décima segunda noite
este poeta
porém
responde
escrevendo
o que você está lendo
antes de voltar a dormir
..

reflexos perversos

..
..
o homem se fez de si a máquina
como
cárcere de elétrons
fábrica (outra)
de processar energias
como
se algo fosse possível
por exemplo
poesia
por exemplo
transistores
perante
o horror infinito
(a morte
máquina)
máquina
texto
que é
combustível para
pensamento
interface Outra
que diálogo
logo
enigma
escondido espelho
(deus de jorrar
cada leitura a quebra de um
espelho
texto
e o rejuntamento dos cacos
para construção de reflexos perversos)
porque a gravidade
grave
ávida grade
(vida)
grilhão
sendo só de fazer cair
(sonho de libertação em lugar comum monstruoso
dar asas à imaginação)
poetas não têm signos
são signos encarnados
inatos e recebidos
em infindável recombinação

gravidade teológica
(cair em
desgraça)
gravidade letéia
(cair em
esquecimento)
gravidade comum
(cair em
erro)
gravidade ética
(cair em
tentação)
gravidade mortal
(cair de
maduro
gravidade poética
(cair em
con
tra
dição)

de dia
o poeta persegue sombras
de noite
as encontra
..

Zéfiro

...
...
servo do mar aberto
poeta liberto
Zéfiro
poente
(para ti translada a Terra somente
d’Oriente ao Ocidente
porque procuram o Sol as flores)

..

sábado, 13 de agosto de 2011

flores de plástico

..
..
Niágara ex-salino,
mar em queda:
chove,
e os objetos sem Oceano
sanguíneo –
compostos de plástico –
dão tanta dó, mãezinha, que,
apesar da redundância de lág
rimas em dias cinzas,
tornam impossível não chorar
para dentro
ao menos:
umas gotas, brigas; outras, poesia
(um poema que me colocasse no olho da rua
equivaleria a uma bala perdida?) –,
involuntária contribuição ao nau
frágil desta arca umbí(b)lica...

Por que você não as pôde parir
da sua placenta de polímero obscuro?

Serão os sonhos (night)mares noturnos?

O drible que o Neymar inventou,
paizinho:
Garrincha se revirou no túmulo;
o Rei decretou: gol de placa.
Claro;
mas,
ob
serve:
as bombas, exercícios, acessores, suplementos alimentares –
cor(o)ação arti(o)fic[tíc]ia-l na capa da Veja,
“Reymar”,
rymos à beça, lembra?
da dygnidade do poeta
querendo rymar Neymar
com mar...

O poeta acre
dita, porém:
a imagem de um Buda em posição de lótus
sustenta a poesia.
(Leia-se: uma imagem qualquer em posição de lótus
[sus]tem[ta] a poesia.
Releia-se: uma imagem qualquer
[sus]tenta a poesia.)

Entre eu e o real,
vozinho, tu
do: roupas, pa
redes, telas, óculos –
palavras até –,
ou nem isso:
essas coisas também reais.

O vivo um lab
ir
into
que desaparece quando algo, ali,
desiste de en
cont[r]ar a saída (que inexiste).

Já dizia a falecida vózinha, otimista como (o para) sempre
(o tempo faz mais sentido aos domingos):
a próxima geração não sentirá saudHades da Mãe Natureza, meu filho;
a próxíma geração não saberá distinguir plástico de placenta.
.
..

os crânios

..

Rasgado de universos –
resta
m:
ventas nas paredes internas de
7 bilhões de
crânios
+ todos os que
viveram
in memoriam et fantasmagorie et
responsabilidade pela extinção não só
dos presentes mas de todos os incontáveis, po
ssíveis, pó
sentes –
             ó
cérebro o
ct
opus gerando mundos;
sobrevivendo de apocalipses a gêneses;
pagando a dor com a persistência
, entre existências,
do direito dos crânios
à beleza
(à lembrança,
a lembrança)
de po
entes.
..
..
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