segunda-feira, 25 de abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

feérisia

...

expulsos,
fugiram para a lua
dentro do raio de visão:
patas-no-limiar,
passaram a se chamar –
tornaram-se gatos,
o mar no encalço do seu olhar-minguante.

os que ficaram se esconderam nos cantos
dos olhos:
em silêncio, marginais,
os perifeéricos;
alguns tornaram-se prisioneiros do invasor:
vozes e vultos ocultos em signos mudos,
os telefeéricos.

expulsos,
têm agora sua vingança:
agoniza o agoz versificador –
voz-no-limiar,
passou a se chamar.
...
... 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

para bochechas bem rubras

...
...

o corpo secretor ora sua pele de panos
aos olhos alheios – talvez os seus no reflexo do espelho –,
deseja ser fulminado mas são as mãos que vestem,
no entanto, também as que despem e profanam – tentáculos –
o templo, a despeito do multiplicado desejo
em lentes potentes e zoons obscenos;

enquanto os olhos-espectro estão onde não podem estar –
e assim dão asas à imaginação –,
a pele envolta em mãos e membros
é capaz de matar ou amar na ficção-epifania do estar dentro,
da penetração no mistério supremo.

na realidade dedos manipulam metades com velcros e botões,
nas digitais o destino de um pênis envolto em zíper,
a pele da virilha depilada para perfeito escorrimento
do sangue super-vermelho: graças a beterrabas na salada,
para bochechas bem rubras.
...
...

sábado, 16 de abril de 2011

numa quarta-feira de cinzas

...
...

se não; não.
afirmou.
pensa-se muito em morrer,
quando matar é possível e não impensável;
tenho pensado mais –
por sua causa, por você, em você –
em matar que em morrer,
nos últimos tempos:

prédios altos, poços secos; 
coisas macabras: ossos e ferimentos;  

em quanto morrer é preciso
anacrônico absoluto em
tão modernos tempos de dúvidas e
relativismos;
enquanto matar –
escolha,
acidente, desígnio –
torna-se
mais do que nunca
(mais do que sempre
fora)
sinal dos tempos:

em todo caso
é relaxar e gozar;

mas o zero a zero do suicídio,
este sim é impensável:
o ser deve matar ou morrer ou ambos
em momentos distintos:
trata-se de um dever cívico.

pois a mão que mata, também dita:

sê assassino como a poesia
mata a saudade da espécie
num choro baixinho de mãe
numa quarta-feira de cinzas
...
...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

a poeira

...
....
....
...
não só povoa o raio de sol
a poeira

está sobre deus e o mundo, à beira
do abismo

onde
invisível
paira
           
muda
mônada
mortalha
...
... 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

H de horror

...
...

nada
respera:
o neologismo-valise aglutina o excludente
paciência e vida

apressa a raça em multiplicar aniversários: caralho
mãe
eu não pedi para nascer
esperança de esgotar as datas disponíveis: porra
mãe
não marcaram no calendário o dia da sua morte

o raro horror do aviso prévio

como se na hora h
dois ou mais corpos não
(o quê então)
pudessem ocupar
o mesmo lugar
no tempo

queda
de
avião –
mesmo Chico Xavier
no filme ao menos
se apavorou e rezou

...
...

yous

...
...

você não morr-
eu
m-
eu d-
eus
tu te multiplicastes
meus deuses
(a morte divide a dádiva—
dívida da vida por infinito
)
e ao 
meu ciúmes
meus ciúmes
meu(s) lápis
questão pronome—
existencial
multiplicastes
na minha posse
minha morte
s-
em ti
s
...
... 

quinta-feira, 7 de abril de 2011

o

...
...

(o)
não
é
o
fim
(,)
a
morte
(o)
não
(,)
é
o
esquecimento
 ...
...

o exterminador do futuro

...

a morte é uma questão
de ponto
de vista
(a morte dos insetos não
ocorre
como a morte –
prato principal
– dos presidentes
norte-americanos
e atrizes dos anos
30)

a morte é uma realidade
– um buquê
mas a realidade é outra
um por quê

pagamento
à vista
(de)

um golpe
de

hasta la vista,
baby
...

terça-feira, 5 de abril de 2011

os dentes

...

a coragem
necessária?
para matar a dentadas
a mulher amada
(contra-senso
mais fácil que assassinar um estrangeiro)

possível?
tirar uma vida
como se usa
um eufemismo?
com os próprios meios
como os deuses
dentes por arma?

não depois da faca
(enfraquece
acovarda)

da cárie e os de leite à palavra (escrita)
dentadura (postiça)
faltam os dentes
poesia (falada)

(pensei nisso nossas lín-
guas enroscadas
você tão calada)
...

domingo, 3 de abril de 2011

à meia-noite

...
...

À meia-noite aterrorizavam-me as aranhas de nervos sob suas pálpebras cerradas.
Queria matá-las à força de esfregar a sombra azul da sua máscara,
de arrancar-lhes as pernas cílio por cílio –
seu sono dava-me solidão.
Queria não ter calculado a soma da minha inexistência em seus incontáveis piscares,
instantes de treva cuja inconsciência lhe poupava náuseas
(e pensar que julgava não dormir de dia para ter um bom sono na madrugada),
poupava-lhe o conhecimento das sombras que ancoravam as cidades na terra,
dos haustos que consumiam libidinosamente a atmosfera,
das horríveis pupilas que já teriam exaurido quantos sóis,
condenado à umbra quantas vidas?


À meia-noite – tão trêmula a sombra da maquiagem em seus olhos-tarântula;
as aranhas que em seu silêncio e em minha ânsia racionalizavam-se sono REM,
serão removidas com o inseticida da sua vulva adormecida –
você dormirá tranquila –
a manhã será outro dia.
...
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