quarta-feira, 19 de abril de 2017

carta

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Carta



Um excesso de sonhos
no qual se morria ou envelhecia precocemente
esgotou, a despeito da lua
que declinava em vigília sem nada
negar da sua indiferença –
de um lado a fóssil onda da Serra
do Mar; do outro, o Mar,
sêmen de serras e demais acidentes
geográficos –,
esgotou, esse excesso, os últimos grãos da areia morfina,
de modo que o sol não encenasse sua eterna estreia
no vão
de uma atmosfera
difusa, mas desse a luz a lembranças (nítidas linhas
de fuga)
e outros crepúsculos, alvoradas de
beijos primevos e semelhantes inocências arcaicas,
de espécie que se hoje não se recusa, tampouco se
recupera.

Não, não viveu em tempos de guerra,
distante, esta, em ambas as direções da seta (a do tempo):
nem ele,
nem ela,
ou seja, somando-se os dois:
a inocência
(os jovens dissolvendo-se em categorias
amargas com invejável doçura...).

Seria possível, perguntava-se o indivíduo (maduro),
não se sentir privilegiado perante as gerações que não foram
(serão) capazes
sequer de escolher entre luta e luto?

A lua havia se afogado;
o sol, ao menos até que se dissipassem as nuvens,
não.

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