quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Os tocadores de fogo

...




So Parmenides’s puzzle still remains for names of nonexistent items such as Santa Claus.
TIM MAUDLIN, The Defeat of Reason


Tudo é real, certo?
mas nem tudo é concreto:
por debaixo do asfalto,
uma praia se espraia,
de sóis só reflexos,
de ondas, ecos.

(Sereias soterradas.)

Acima – sacrilégio e progresso
– um carro percorre as ruas
enquanto a imaginação perfura
à procura do mineral das imagens.  
Um outro – ouro outrora estrela
ou minério de mim –, usar-se-á,
decerto, para transformar areia
em cascalho, este em pedras,
pedras em castelos de cartas
marcadas? Quem
o crupiê?

Ainda se reconhece: do ar poluído
que, de certo modo, a sustenta,
chegará, por cadeia imensa
(a imaginação, terrae incognitae verdadeira)
aos dragões pré-históricos
e, concomitantes e anteriores também,
aos vegetais que os alimentaram
e aos abundantemente habitados
arranha-céus, cujas copas não os
protegeram do destino mas do sol sim,
não que tivessem sido Ícaros
(eram – pobres de espírito – petróleo vivo),
quando muito alimento para o fogo
daqueles que descobriram a húbris
(forma ígnea diversa)
e daqueles que, do aquém-túmulo,
esgotaram o combustível até a última gota
ao tocarem o fogo – sim,
foi ardente a canção do fim –
na porra toda.
...









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