terça-feira, 22 de outubro de 2013

Carta de não-suicidio (Armagedom sem Bruce Willis)

...

urna cinza para cinzas
cinzas:
urbe derredor
do rural em ruínas,

paraíso para tenros vitelos,
crianças e outras carniças,

a guerra química de todos os dias
acondicionada em sachês de Tang

e a morte muda,
fascista,
que não admite a voz
passiva

(rosário rosa para rosas
de plástico,
self-service eterno:
“O trabalho liberta” no fundo dos pratos).

finalmente reconheceram o suicídio
como mito (tirou a própria vida porque não pôde,
que irônico, tirar da cabeça a fotografia que tirou
da menina sudanesa que não tirou 
das garras da ave que já lhe espreitava a pele e
os tendões ressequidos).

Ao cabo, nos créditos, de nomes e cargos
só dedicatórias consolam.
Esta para o Diego:

Conceber, amigo: dar ao assassino mais uma vítima;
um sacrifício por um capricho:
"quero ter um filho?"

Esta para o Márcio:

Todo verso / um suicídio / e um renascer / em signos

E esta para o Flávio:

Na falta de um oceano, vai daqui este sumário aceno, grande abraço.
...

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