sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

escada de incêndio

...

fazer com que escadas de incêndio sejam finalmente feitas de fogo
não só de luz
sons
simetrias
temperaturas
textos e texturas

sofismas

essas coisas que constituem o fogo

que arde
mata e
con
some


...

estática

...

Não
o ato em si
ou sua consequência:
fotografia
de mulher nua,
estática,
estética;
sim
a perversão na razão:
ética;
uma troca,
sempre:
sua luz autografada
por um “presente”.

Prostituta numa ponte
em qualquer ruína da Europa,
milênios a lhe emprestarem
decência,
frieza e morte.

Se eu fosse o último ser humano do mundo,
castrar-me-ia

ao som de
Karma police
ou
Enjoy the silence?





...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

nekuia

...



dia elétrico
bares
ruas
esquina
putas
nome de guerra
pago
esqueço
apago

manhã desligada
claridade por toda parte
não ilumina nem rostos nem nomes nem nada na memória
descalço na calçada
na placa
nome da avenida
saída
do labirinto
via
palavra

no caminho para casa
trabalho
vida
placas
deslidas
(este labirinto tem coletivos
guias)

sensação
de suicídio
concluído

já se foi o tempo de culpas
agora (aqui) a necromancia é procurada
depois reportada sem fé
em nomes
preces
profecias
palavras


...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

nuvens

...

essas nuvens
essas    
            nuvens
pálidas
                        a cara do meu chefe
essas nuvens
rápidas
me dão des     
ordens

melhor não olhá-las
mas a água
é preciso bebê-la
chove 


... 

domingo, 18 de dezembro de 2011

epifania do lar

...



No tédio do dia-a-dia de dona de casa
renovou-se em poesia:

um inseto na pele pálida,
imaculada,
da filha, 
não lhe provocou nojo e sim epifania:

na ausência de palavras,
pensou,
baratas embalam crianças
e abençoam a nossa comida.



...

Casablanca

...



Ontem assisti pela primeira vez a Casablanca, por sugestão e na ótima companhia do meu avô, João Fernando Gullo. Foi uma das experiência mais bonitas da minha vida: trata-se de um filme realmente perfeito, dentro do que Hollywood propõe. Está entre os meus prediletos, junto a Bladerunner (sempre em primeiro lugar) e A Lenda (Ridley Scott rules! :-).


...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

açougue de signos

...

no açougue de si
gnos ou cemitério                                               ci
          ber                   n
                                                 ético
todos os tipos de cortes à escolha do cli
                                                                                ente



...

domingo, 11 de dezembro de 2011

cicatriz

...

não se pode temer a morte
porque a morte não existe
existe a dor
existe o não mais existir
encarnado
em tudo o que continua
indiferente

a morte não existe em si
existe a ferida do fim
que não deixa sequer cicatriz

...

domingo, 4 de dezembro de 2011

erosão

...





Abraçamo-nos na chuva fina,
nesta praia cujo nome indígena
teria lugar num poema de palavras e rimas raras, 
não aqui, nalgum ponto do litoral norte,
nalgum instante entre o agora do texto
e o tempo em que emergia do mar, deste Atlântico
sempre o mesmo, o primeiro ser a se arrastar solitário,
sem poesia só desejo na areia outrora cascalho.

Mas então um abraço é tudo o que temos,
apesar dos braços cansados.
Por tudo o que perdemos,
por tudo o que perderemos – por todos os espelhos
quebrados em busca do inatingível fundo opaco –,
tornamo-nos cinza com o passar dos milênios,
não sentimos falta de um poente,
desmanchamos na água de onde viemos.


...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

astropoeta

...



É pela janela que vem a solidão.
Estranho, tão estranho, ver o sol ao lado de outros astros,
como num filme de ficção científica.
O sol pertence ao dia, intuímos erroneamente;
o dia pertence ao sol, corrigimos, e isto está mais certo
embora nem sol nem dia existam solidamente (eu iria
escrever como uma rocha, mas nem mesmo uma rocha existe
solidamente, nada existe que não seja violentado
por bilhões de neutrinos a cada segundo).

Quis provar o vazio e resistir ao desespero. Estou há dias
sem lembrar e sem escrever. Provei também meu desprendimento
ao fazer e esquecer, sem anotar, dezenas de versos. Tive esperança
que não houvesse versos inevitáveis ou derradeiros; que nada de derradeiro
houvesse, ou de inevitável; que tudo fosse contingente. Mas então a
possibilidade do infinito não torna tudo possível, tudo certo
e infinitamente repetível?

Até o mais raro dos poemas existiria em infinitas variações
mas também em infinitas cópias perfeitas de si mesmo.
Se assim for, o que resta senão humildade infinita aos poetas?
Julgamentos de valor valendo eles próprios apenas localmente,
o que para alguns equivale a dizer nada valendo.

Procuro na janela por apatia; procuro a garantia de não haver nada
além da morte, de não haver além da morte para quem morre 
mas só encontro todo tipo de indiferença – a da luz estelar constante,
a da escuridão circundante, a do silêncio insensível, a do frio paralisante –,
todo tipo de indiferença menos a minha, o que me faz voltar à poesia.


...

tudo quer te abraçar

...



Distância e solidão igualam vida,
porque tudo te quer morto se te aproximas:
o mar em que mergulhas,
a tomada que tocas,
a terra em que aprofundas;

até tua amante pode te querer bem
morto,
seja conscientemente
devido a teu seguro de vida,
seja inconscientemente
se acreditas em Freud.

Lembrar é calcular distâncias
(só se lembra o que ficou para trás,
só se lembra o que se perdeu),
esquecer é aproximar
sem saber.

Tememos a solidão –
ansiamos tanto por atenção,
por outra voz,
pelo calor de outro corpo.
Tememos, portanto, a vida;
ansiamos, assim, pela morte.

Tudo quer te abraçar,
tudo quer te esquecer;
tudo é teu inimigo, não te esqueças disso.


...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

amortecido

...





Imaginou a morte mil vezes:
as Mil e Uma Noites que todos escrevemos
a mando do medo.

Recitou de si para si suas lembranças:
todas doces e belíssimas
como poesia.

À base de morfina
disse (delirou) para a escrita do filho:

toda vez um talvez
solidão plena da aparência
absência da essência

Sem querer
haviam descrito a existência humana,
as palavras amor-
tecidas.


...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O arco e a Líria

...





O que fosse envergasse o arco,
preferiria fosse Líria –
sereia em resguardo,
natural o arquejar de sua lira.

Nadava em devaneios,
sonhos e fantasias –
ordinárias fontes de desejo,
ele mesmo fonte de toda a vida.

Quanto mais vida, porém,
menos poesia.
Líria era canto e encanto:
não arqueava, arquejava sua lira.
Era canto e encanto
aos ouvidos deste morto-vivo;
era canto e encanto encarnado
no arco deste discurso antigo.


...

domingo, 20 de novembro de 2011

palhaços

...


a
parecer

sea
rte
, se
gu
ir a
dia
nte
, noite
con
ti
nua.

vê (a
lilás): a
lingua além da luz
co
incide
inde
pende
da
vista se a
a
palavra –
dúplicecúmplice
– p
re vê

nem sempre se vêem estrelas mas
alguma beleza se
se
lembra

no fim,
depois que você dormir e
depois que você acordar – não haverá para aonde fugir –
serão só palhaços sem pernas se arrastando
entre ruínas
atrás de anjos que se escondem nas suas lembranças,
Ana,
roubados das elegias.

A inauguração de um mundo novo.
Espera e contempla: com encavalados I hate you
mal dublados (não haverá legendas no Apocalipse),
eles abrirão seu cérebro e repartirão a asa obscura;

o desespero...
nada é mais sonho tampouco realidade,
mas você ainda é natural, como o seu
medo e seu
sangue Oceano.

Não,
não é assim; você não vê que isto é um poema e
basta?

Os palhaços não vê(e)m.

Descança, Ana,
na lembrança de quem lê.

...

prise

...

te dou blocos de plástico
e você constrói,
que lindo,
um carrinho;
te dou um doce
e você me devolve,
que bom,
um carinho;
se te desse veneno,
você bebia
e
morria;
talvez uma solução?
de cicuta,
para manter a tradição.
meu filho, você é cego
e no entanto vive,
ainda,
como se não fosse. Quando
entender, continuará a viver,
apesar do sofrimento e da
escuridão – e todos os
significados estarão aí,
inclusive nenhum, o que
pode querer dizer, entre mil
possibilidades, que um dia
você vai morrer e eu vou
morrer e todo o mundo vai
morrer, ah, que droga
tranquilizadora mas paliativa são
os poemas, os sofismas e as ironias!


...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

entre dois pensamentos

...


Porque só existem de dia,
à noite os deuses desistem:
tornam-se selenitas
ou agacham sob postes de luz
de onde invejam os casais em quartos
cujas janelas se fecham
e as luzes se apagam.

É possível vê-los
de carros em movimento
no intervalo eterno
entre dois pensamentos.


...

seu silêncio

...



quando lia meu texto
excitava-me seu silêncio

transava minhas palavras
eu a colonizava

olhava além da letra
violentava-me sua pupila mais negra

sua voz poluiria o ar
como a fumaça do meu cigarro


...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

cria

...

parte de ti
parte palavras

desentendimentos
contratempos

parte outra
emenda

acordos
textos

se arte
parte
para outra parte
ultrapassa
a física

cria
cria-se
criam-na
cria de

...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

meninas

...

há violência em excesso travestida
no cheio quase
explodindo das moças púberes
redondez de seios
encarnado de lábios
abismos rosados

quem não enxerga essa perfeição
quem não enxerga essa agressividade
do belo
razão suficiente
quem não enxerga
para toda decadência
morte
genocídio
guerras

preciso é
ó meninas
deflorá-las
vermelhamente

...

domingo, 18 de setembro de 2011

Paradise City

.
.

que sua voz me arranhasse:
agulha sua garganta, vinil minha saudades –
.............só meu seu chiado                        jazz singer
..........................gorgeous whiskey breathed nigger

.........................(outros não a sonham, não a imaginam –
.........................não a vêem de olhos fechados –; outros não
.........................a amam como poetas, não a escutam como músicos).


que o mundo se tornasse preto
& branco ante a menina
dos meus olhos – lassivíssima –,
algo Sin City, sim,
algo Santos, claro,
algo São Paulo – digo, invertido:
concreto, mar e pecado – Paradise City.

.............(travessos travestis atravessam teu Cabo de Piche a nado,
..........................sabedores da sujeira,
.............cobradores de taxas obscuras por tua obscura partitura:
..........................venderam-me este poema)


...........................para quem sua voz circundasse:
.............sereia seria sua canção, projétil minha
.............mirada de – pleonasmo – marido traído;
doce seria matar ou morrer em ti e por ti

............. s   p   a   r  a   g  m   o   s 

e assim fazemos,
amém,
morrendo de medo.


..

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

transporte coletivo

..
ligado em tudo
antenado nas novas tendências
em sintonia com o meio
por dentro dos últimos acontecimentos

............boca aberta
............olhos abertos
............nariz aberto
............ouvidos abertos
.,,,,,,,,,,,pele aberta

no transporte coletivo
dúzias de cidadãos colados
todos amados

........................setudosemovenamesmavelocidadetudoestá
..............................................................................parado

.......................(nunca
.......................se chega

.......................sempre
.......................se está

.......................no mesmo
.......................lugar

...........................................[impossível te encontrar])

enquanto lembro um soneto
de William Shakespeare
alguém escuta “The Time”
na voz de Will.I.am do Black Eyed Peas

............no transporte coletivo
............dúzias de cidadãos colados
............todos armados

na tela da TV
a queda
no Oriente Médio
de um tirano
resulta num poema atlântico

............e o Mar lançou o homem sobre a Terra
............o Fogo e o Ar
............para que houvesse banhos
............de sangue
............e a Água estivesse em todo o Lugar

transporte coletivo:
dúzias de cidadãos calados
todos fuzilados

............boca aberta
............olhos abertos
............nariz aberto
............ouvidos abertos
,,,,,,,,,,,,pele aberta
...

o peixe morre pela boca

...
...
adorar memória
que permite a leitura de poemas no escuro

o homem morre por todos os motivos
poetas
quando a expectativa da criação de mundos
em versos futuros
não compensa a dor da existência
(a lembrança de antigos mundos só aprofunda a tristeza)

Hart Crane queima na minha cabeça
como Celan
e outros
tão claramente

se a poesia não mata
tampouco salva
Carlos

não sou escravo da
sou a própria
palavra
..

dois crânios

...


preciso lembrar
que o encanto do teu rubor
é sangue sob tua pele
não oceano

preciso imaginar
que te sustentam
ossos sob tuas carnes
crânio sob tua face

mas então
ridícula e tragicamente
que meu crânio poderia amar o teu
...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

poema de cabeceira

..
,,
uma criança chora na madrugada
até o décimo segundo andar
até parar
exaurida
pois o prédio permanece noite
a luz elétrica não responde
em janelas de vidro maciço

na décima segunda noite
este poeta
porém
responde
escrevendo
o que você está lendo
antes de voltar a dormir
..

reflexos perversos

..
..
o homem se fez de si a máquina
como
cárcere de elétrons
fábrica (outra)
de processar energias
como
se algo fosse possível
por exemplo
poesia
por exemplo
transistores
perante
o horror infinito
(a morte
máquina)
máquina
texto
que é
combustível para
pensamento
interface Outra
que diálogo
logo
enigma
escondido espelho
(deus de jorrar
cada leitura a quebra de um
espelho
texto
e o rejuntamento dos cacos
para construção de reflexos perversos)
porque a gravidade
grave
ávida grade
(vida)
grilhão
sendo só de fazer cair
(sonho de libertação em lugar comum monstruoso
dar asas à imaginação)
poetas não têm signos
são signos encarnados
inatos e recebidos
em infindável recombinação

gravidade teológica
(cair em
desgraça)
gravidade letéia
(cair em
esquecimento)
gravidade comum
(cair em
erro)
gravidade ética
(cair em
tentação)
gravidade mortal
(cair de
maduro
gravidade poética
(cair em
con
tra
dição)

de dia
o poeta persegue sombras
de noite
as encontra
..

Zéfiro

...
...
servo do mar aberto
poeta liberto
Zéfiro
poente
(para ti translada a Terra somente
d’Oriente ao Ocidente
porque procuram o Sol as flores)

..

sábado, 13 de agosto de 2011

flores de plástico

..
..
Niágara ex-salino,
mar em queda:
chove,
e os objetos sem Oceano
sanguíneo –
compostos de plástico –
dão tanta dó, mãezinha, que,
apesar da redundância de lág
rimas em dias cinzas,
tornam impossível não chorar
para dentro
ao menos:
umas gotas, brigas; outras, poesia
(um poema que me colocasse no olho da rua
equivaleria a uma bala perdida?) –,
involuntária contribuição ao nau
frágil desta arca umbí(b)lica...

Por que você não as pôde parir
da sua placenta de polímero obscuro?

Serão os sonhos (night)mares noturnos?

O drible que o Neymar inventou,
paizinho:
Garrincha se revirou no túmulo;
o Rei decretou: gol de placa.
Claro;
mas,
ob
serve:
as bombas, exercícios, acessores, suplementos alimentares –
cor(o)ação arti(o)fic[tíc]ia-l na capa da Veja,
“Reymar”,
rymos à beça, lembra?
da dygnidade do poeta
querendo rymar Neymar
com mar...

O poeta acre
dita, porém:
a imagem de um Buda em posição de lótus
sustenta a poesia.
(Leia-se: uma imagem qualquer em posição de lótus
[sus]tem[ta] a poesia.
Releia-se: uma imagem qualquer
[sus]tenta a poesia.)

Entre eu e o real,
vozinho, tu
do: roupas, pa
redes, telas, óculos –
palavras até –,
ou nem isso:
essas coisas também reais.

O vivo um lab
ir
into
que desaparece quando algo, ali,
desiste de en
cont[r]ar a saída (que inexiste).

Já dizia a falecida vózinha, otimista como (o para) sempre
(o tempo faz mais sentido aos domingos):
a próxima geração não sentirá saudHades da Mãe Natureza, meu filho;
a próxíma geração não saberá distinguir plástico de placenta.
.
..

os crânios

..

Rasgado de universos –
resta
m:
ventas nas paredes internas de
7 bilhões de
crânios
+ todos os que
viveram
in memoriam et fantasmagorie et
responsabilidade pela extinção não só
dos presentes mas de todos os incontáveis, po
ssíveis, pó
sentes –
             ó
cérebro o
ct
opus gerando mundos;
sobrevivendo de apocalipses a gêneses;
pagando a dor com a persistência
, entre existências,
do direito dos crânios
à beleza
(à lembrança,
a lembrança)
de po
entes.
..
..

sábado, 23 de julho de 2011

oxímor(t)os

..
..
...entropias atrás
mor(us)
morte
incontigente
distópica
utopia
..
..

Caronte carente

..
..
Saindo cedo de casa,
porém tarde da história,
a caminho da cidade segura –
oxímoro ou pleonasmo
–, Sampultura...

Dentro do ônibus (
metais,
tecidos,
plásticos
) – em movimento e parado
ao mesmo tempo –, rumo a destino conhecido mas
ignorado, cortinas fechadas, passageiros passageiros,
cada um em sua poltrona numerada:
uns em sono profundo, outros noutros refúgios (
remorsos,
preocupações,
fones de ouvido
), o frio aproximando mais o mais
próximo, braços em contato devido a restrições
de espaço...

Uma hora e pouco de seu corpo ali para sempre,
de sua respiração apenas sonhada sob o so
m do motor que soterra o romantismo latente,
deixando só o desejo nu no consolo das mão
s que se tocam e entrelaçam, protegendo uma à ou
tra do frio ou da solidão ou de ambos, se
m saberem que, em outro con
texto (
em movimento e parado ao mesmo
tempo
), protegem apenas um corpo e uma mente,
a essa altura (
tarde na história
),
manetas (
para sempre
).
..
..

ultima thule

..
..
a consciência
caçadora
de essências
é morta
a tempo
pela aparência
da presa
..
..

apagão da memória (pendrive ciborgue)

..
..
levamos
lembranças
enlatadas
em gigabytes

lembramos
em telas
uma imagem por vez
ou num filme
a não ser
que acabe a energia elétrica
..
..

aclusão

...
...
À sua disposição para gerar mais dúvidas,


Poesia
...

...

em outras palavras (versão autobiográfica de “que não termina”)

...
...
A perda de um pai ausente, aos treze,
pôde ser substituída pela leitura
de um livro sobre o tempo –
antes, durante e depois do enterro.

Uma semana de diferença, e
a morte da avó materna: “antes ela
do que eu”, dissera a mãe em
outras palavras – palavras ternas,
lembradas conforme à letra: “Deus
tinha que levá-la para que em seu
lugar não fosse eu”, eufemismo
eficaz contra a dor da culpa por
ser incapaz de sentir dor.
...

...

que não termina

...
...
A perda de um parente, aos treze,
pôde ser trocada pela leitura
de um poema sobre o tempo –
antes, durante e depois do enterro.

A perda da própria vida, aos trinta,
pôde ser trocada pela escrita
de um poema sobre o tempo,
que não termina.
...
...

sábado, 25 de junho de 2011

império da palavra (im)pura (poema—bomba-braille—partitura; concepção artística da tese da poesia extática, a ser escrita)

..
..

a palavra lida
é palavra conta(mina)da
com pólvora sígnica

pena (poema) é não sabermos mais
tocar essa lavra cí(ê)nica
..
..

Wild Ride

...


a Frank Frazetta, in memoriam




                                      enquanto a perna aponta

                                                                                              seta
                                  a penumbra passageira
                        raia o sol sob as patas
                           oculto como está 
                  'trás das águas

...                  

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um belo poema de Gonçalo M. Tavares

...



Não é útil às borboletas aproximarem-se das batalhas; afastam-se,
pois, e tornam-se ainda mais belas porque são vistas de longe.
Se fores tocado por um animal perfeito, é porque desertaste.

...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

selenitas

...


mesmo antes
de Willians Anders
poetas já sabiam
que a Terra nascia
todos os dias
...

domingo, 12 de junho de 2011

carta aos filósofos distraídos

...
...

artistas vivem no horizonte
e são feitos de abismos,
essa escuridão que pulsa,
pulsa como um coração
de dentes e diz:
mudez é nudez da emoção:
algo esfria no íntimo e cala
perante o sorriso da solidão;
olhares vazam o nada de dentro 
para ver o nada de fora,
quando cegos comem peixes
e assim a si mesmos,
estando como estão na treva
como aqueles n’água,
espaço onde nadam como se
nada em nada;
todavia, mesmo videntes,
se não forem artistas,
ignoram que corpos sem vida
dão mais medo ao meio dia,  
o sofrimento a origem de todo medo,
embora temamos a morte mesmo
ela sendo o fim de todo tormento –
um problema insignificante para você
(somente filósofos distraídos leem
poesia), mas, por insondável,
grave como um buraco negro maciço
para um filósofo concentrado, o fato
de leões marinhos, em toda uma vida,
jamais molharem suas belas jubas,
coisa terrível! pense nisso com carinho
e não morra enquanto isso.
...
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