Segue um poema inédito de Márcio-André, o qual me parece de alcance universal, tanto pela natureza de seu assunto quanto pelo virtuosismo da forma, que permite a reverberação máxima desse assunto e promove vários níveis de leitura, com o que quero dizer, entre outras coisas, que há enorme complexidade formal-temática sutilmente tecida num texto superficialmente simples.
A foto, também de M-A, integra-se ao texto e merece atenção especial.
poderia ter nascido em cada cidade do mundo
com uma roupa diferente
em uma casa diferente
e poderia ter tido
os mesmos amigos com outros nomes
e falar tudo outra vez
em diferentes línguas
e chegar àquele mesmo instante
vindo de distintas trajetórias:
há tantos
infinitos dentro do infinito
e tantos nomes para a infinita possibilidade
de ser quem se é
que o infinito não se reduz a semântica de "infinito":
por mais distantes
os lugares permanecem lá
à espera
do jeito que sempre foram
na nervura luminosa da noite
suportando em si a mecânica de se vivê-los
...
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