sábado, 16 de abril de 2011

numa quarta-feira de cinzas

...
...

se não; não.
afirmou.
pensa-se muito em morrer,
quando matar é possível e não impensável;
tenho pensado mais –
por sua causa, por você, em você –
em matar que em morrer,
nos últimos tempos:

prédios altos, poços secos; 
coisas macabras: ossos e ferimentos;  

em quanto morrer é preciso
anacrônico absoluto em
tão modernos tempos de dúvidas e
relativismos;
enquanto matar –
escolha,
acidente, desígnio –
torna-se
mais do que nunca
(mais do que sempre
fora)
sinal dos tempos:

em todo caso
é relaxar e gozar;

mas o zero a zero do suicídio,
este sim é impensável:
o ser deve matar ou morrer ou ambos
em momentos distintos:
trata-se de um dever cívico.

pois a mão que mata, também dita:

sê assassino como a poesia
mata a saudade da espécie
num choro baixinho de mãe
numa quarta-feira de cinzas
...
...

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