quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

voyager





enquanto ardo

a conta gotas

preso ao chão

a Voyager se livra de tudo 

sol

terra

a 61.000 km/h


o tempo não existe

mas o atrito com o espaço

mata

na unha


impossível ficar parado


mesmo a morte requer gestos

(o fim

um destino

em que se tem que chegar)


se eu fosse o faroleiro de Henryk Sienkiewicz

não escreveria mais poemas sobre solidão

que é uma forma de nada e portanto

uma forma de morte

do que escrevo agora

na escuridão da cidade


mas aqui eu só sou ignorado em minha presença

enquanto lá

lembrariam de mim

e navios afundariam






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