domingo, 26 de dezembro de 2010

2 exemplos aos poetas desviados de plantão, ou "o fim da picada: ficar bêbado de um copo d'água"

Quero compartilhar dois textos curtíssimos, um trecho de Cabral e uma resposta de Raduan Nassar a entrevistador. Os textos se complementam. Tenho-os como exemplos e pretendo-os duas belíssimas bofetadas aos poetas (políticos) desviados de plantão:


Cultivar o deserto
como um pomar às avessas
.....................
onde foi palavra
(potros ou touros
contidos) resta a severa
forma do vazio.


Pergunta a Raduan: Por que essa atitude de recusa radical em relação à teorias literárias? Você acredita que um autor possa dispensá-las? 


Resposta: Suponho que exista em toda obra uma teoria subjacente do autor, podendo ser apreendida pelos que eventualmente se interessem por ela. Mas quando um escritor faz a exposição da sua teoria, para suprir de significados uma poética que não consegue falar por ela mesma, acontece aí um evidente desajuste. A poética pretende ser revolucionária por desestruturar a linguagem convencional, só que seu autor, para explicá-la, acaba se socorrendo da mesma linguagem que usamos para pedir um copo d'água, o que é o fim da picada. Ou então a teoria tem cumulativamente caráter programático com o claro objetivo de arregimentar seguidores. Mas, nesse caso, o miolo da questão é outro. Seria mais sensato então que esse escritor fundasse um partido político. Sem rodeios.

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