quinta-feira, 31 de maio de 2012

amiúde (rediagramado)

...


doc' escassez de sentir:
beijo à míngua

na

manhã de pêssego


nuvens                                desatam
                               ondas                                   quebram
                areia                                     amiúda


desunião legí(n)tima

matrimônio
               
entropia

...

terça-feira, 29 de maio de 2012

Z.

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como o grito do gavião de B.
em V.
voando de encontro à capela,
o latido do cão que atropelei
em Z.
quer dizer
este seu último lugar que ele não saberá
simbolizado em letra e ponto simultaneamente
final e de abreviação (de sua vida),
símbolo desse ser que me viu chegar a si
como um deus terrível e saudou-me com um latido,
assim como o gavião de B. saudou com um grito
aquele deus benevolente que lhe roubava a alma
para aprisioná-la – eternizá-la? dádiva? – em palavras.

oxalá nossos próprios deuses sejam mais que os deles.





Nota: baseia-se no poema O Gavião, de Yves Bonnefoy, que pode ser encontrado, entre outros, em http://www.culturapara.art.br/opoema/yvesbonnefoy/yvesbonnefoy.htm
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segunda-feira, 28 de maio de 2012

grama

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gentil lâmina
que o zênite acalma em verde

se não corta o ar
mas dança
quem dirá os pés
que ao pisá-la
reatam raízes
planta com planta

...

partida

...



Nem vodka nem champagne: taça
ou faca ou agulha: unhas

sorriso & labirinto
sinônimos para olhos namorados

um discurso que não se quer entendido
porém a-provado – como degustado, certificado
– retórica de fios:
poesia?
não: penteado

prova de que o tempo é a quarta parte do espaço:
seus atrasos

quando não a prazerosa angústia de esperá-la (fantasiá-la
ato-fátuo quando de fato – salto-alto, batom, rímel
– ela própria se fantasia: dispor do tempo com arrogância felina
tornar uma angústia
a espera
arte de que se tira beleza e fábula
poder da sereia que sabe a existência do amor apenas como
a espera do amor)
e depois da espera
mais angústia
a alegria de vê-la chegar
sabendo-a partida

...

estação qualquer

...






ontem meu amor se atirou nos trilhos do trem
e não houve quem se atirasse postumamente
nem para salvá-la
nem para imitá-la

compareceram ao enterro, porém
todos a não ser os mais covardes dentre

eu, por exemplo, a vi se atirar e não me atire atrás, é verdade
tampouco compareci ao velório
morrendo de medo dos mortos, como morro

mas atirarei  
ano sim
ano não
lírios aos trilhos
sabendo que, como todos, há muito me atirei de uma estação qualquer
só caio
lento
como um lenço ao vento 
...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

gaga

...


teleporte que não tele(
im
)porta matéria mas
matéria imagemnada –

ímã d’
atenção
irmã d’
espelhos
mãe d’
ilusão
e d+ aparelhos
eletrônicos

– apenas passa

(sendo irônico)

Rá olho de (

o             u
s
íris

(o)       sempre se sou
be

círculo roda

por todo o in
finit
o

) intermináveis
telenovelos
cortados por
propa                    ga           nda
propa                    ga           da
a
pa        (lady)         ga          da


...

terça-feira, 15 de maio de 2012

ídolos

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Mais que fulguram,
os deuses figuram:
pinturas,
vitrais,
frequentemente ex-
culturas – pés de barro – cujos
olhos encerram onisciência de ótica
e cuja voz ouvimos em respeitoso
e sagrado silêncio,
ou talvez:
e cuja voz ouvimos, repletos de respeito:
o sagrado silêncio...



...

âncoras


...

Uma mãozinha fofa,
uns labiozinhos molhados sempre limpos,
uma vozinha que já a descreve o diminutivo;
irmão, irmã, filho –
então um atropelamento imaginado e nada mais,
mentira,
lágrimas irreais de verdadeiras
por não terem a coragem de reconhecer o corpo –
abismo, buraco, poço –,
tampouco de imaginá-lo desfigurado:
ficaram fotos, filmes
e sua significância para a lembrança –
fêmea efêmera –,
âncoras no mar da infância.


...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

asterismo*

...



Ei-la,
mulher drenada,
artérias e sulcos,
músculos:

preenchê-la de prazer,
pre(ten)cio-
sa pedra.

Ângulo superior:
berço-criança,
(sus)tentáculo de chupeta
abandonado;

bateria arri(m)ada:
esbate de carnes num quarto,
noutro, vômito não microfonado –

olhos fechados
(nenhum)
em ambos os (in)cômodos;

mediterrânea revelação,  
sonho:
câmeras choram tanto quanto
lunetas vêem a lua
e nomeiam constelações,

Almagesto**(***).




* Asterismo 


1. Na astronomia, um padrão reconhecível deestrelas no céu noturno da Terra. 
2. Asterismo é um fenômeno que ocorre em gemas devido a impurezas de rutilo, criando uma área de maior reflexão da luz em forma de estrela.
3. Asterismo é o uso de uma palavra prefixo para chamar a atenção para as palavras seguintes. Exemplos:

  • Eis que venho para lhe mostrar o caminho.
  • Lo, eles encontraram o estábulo.
  • Escuta, você não está ajudando!

** Almagesto, palavra árabe que significa "O Maior", é o nome de um tratado deAstronomia escrito no século II pelo astrônomo Claudius Ptolomaeus deAlexandriaEgito. A obra, uma coleção de 13 livros, contém o mais completo catálogo de estrelas (cerca de mil) daAntiguidade e foi utilizado amplamente pelos árabes e europeus até a alta Idade Média. Descrevia também ogeocentrismo e o movimento aparente das estrelas. Tinha o título original de "A Coleção Matemática", no entanto, ficou conhecida por "O Grande Astrônomo", de onde vem o seu título final. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Almagesto)

*** Asterisco
[Do gr. asterískos, ‘estrelinha’, pelo lat. asteriscu.]
Substantivo masculino.
1.Sinal gráfico em forma de estrela (*), empregado para remissão a uma nota no pé da página, ou no fim do capítulo ou do volume (podendo, nestes casos, vir entre parênteses, ou seguido de um arco de parênteses, ou isolado); para substituir um nome que não se quer mencionar (caso em que se usa em grupo de três, dispostos horizontalmente; ex.: o Marquês ***), para separação de períodos (podendo então ser usado simples: *, ou em grupos de três: *** ou ***); ou, ainda, como símbolo de uma convenção. [Sin.: estrelinha. Não existe o s. asterístico.] (Dicionário Aurélio)

**** Em computação os caracteres-curinga são utilizados em casamento de padrõespara substituir algum outro carácter desconhecido em uma sequência de caracteres.
É muito utilizado ao realizar um glob para procurar arquivos cujo nome ou caminho completo são desconhecidos. Nos interpretadores de comandos de vários sistemas operacionais, como por exemplo o bash [1] no Unix, o caractere asterisco (*) é reconhecido como um caractere-curinga que casa com qualquer número de caracteres desconhecidos e o caractere interrogação (?) é um curinga que casa com um único caractere desconhecido. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Caractere-curinga)

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de olhos fechados

...



solta
ou em busca do céu
da sua boca
(prazer d’estrelas)
a língua
para si só deseja
vestido de pálpebras
o sentido
(textos                dis
texturas              cursos)

pupila sobre raios de íris
eclipse
unta treva na vista
elipse

toda
via íntimo
silencioso
sozinho

molhado
marítimo
sagrado

o beijo deve ser dado (a si próprios não vistos
ou roubado (abertos
(olhos não aceitam presentes
de olhos fechados (e estão sempre atentos)  

como o sono
                (eclipse)
ou a morte
                (elipse)                                              

re
torno

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terça-feira, 8 de maio de 2012

E-mail à Catedral-Escritório

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Prezada Catedral-Escritório,

Que oração?
reza
respondida sempre
e sem pressa
pelo milagre do tick-
crack
calculado à energia
elétrica.

E a san(t)idade na cidade?
erige-se em paredes,
prédios,
pilares –

avisos do concreto
contra o horizonte,
cemitério de n-
aves
e sonhadores.
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terça-feira, 1 de maio de 2012

Texto crítico no Musa Rara

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Amigos,

Saiu no portal Musa Rara meu estudo comparativo sobre as obras poéticas de Márcio-André e Haroldo de Campos. Convido todos a visitarem.

http://www.musarara.com.br/xadrez-de-influencias


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