segunda-feira, 20 de março de 2017

Baile de Faces

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Baile de Faces



Como é que o senhor, eu, os restantes próximos, somos, no visível?
JOÃO GUIMARÃES ROSA, O Espelho.



Era uma máscara espelhada, oval,
que filtrava as toxinas do ar.
O mundo inodoro e monocolor: amarelo. Distante.
Alguns acrescentariam: insípido (silencioso).

A máscara despertou no leito onde parecia ter dormido.
Mas ela jamais dormia.
Em vez disso, todas as noites,
período em que as luzes ficavam acesas e os olhos abertos,
ela se refletia no espelho acima,
paralelo ao leito.

Levantou-se maciça,
sólida em comparação à silhueta translúcida que,
do seu ponto de vista,
era o corpo que a sustinha.

Dirigiu-se ao cômodo adjacente,
onde encontrou uma máscara idêntica a si,
do mesmo modo sustentada
por um corpo quase transparente,
quase imperceptível,
na prática raramente notado.

Sem palavra, movimentando-se lenta e meticulosamente, a primeira máscara se posicionou à frente da segunda e deu dois passos para trás, de modo que, por todo um minuto, a primeira pudesse observar-se, agora menor devido à distância, refletida no exato centro da segunda, que se refletia da mesma maneira e na mesma posição na primeira, que se refletia, menor, no centro do seu primeiro reflexo na segunda, que se refletia, menor ainda, no centro do seu primeiro reflexo na primeira, que se refletia.

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