urna cinza para cinzas 
cinzas:
urbe derredor 
do rural em ruínas,
paraíso para tenros vitelos, 
crianças e outras carniças,
a guerra química de todos os dias 
acondicionada em sachês de Tang
e a morte muda, 
fascista,
que não admite a voz
passiva
(rosário rosa para rosas 
de plástico,
self-service eterno: 
“O trabalho liberta” no fundo dos pratos).
finalmente reconheceram o suicídio 
como mito (tirou a própria vida porque não pôde, 
que irônico, tirar da cabeça a fotografia que tirou 
da menina sudanesa que não tirou 
das garras da ave que já lhe espreitava a pele e 
os tendões ressequidos).
Ao cabo, nos créditos, de nomes e cargos 
só dedicatórias consolam. 
Esta para o Diego:
Conceber, amigo:
dar ao assassino mais uma vítima;
um sacrifício por
um capricho: 
"quero ter um
filho?"
Esta para o Márcio:
Todo verso / um
suicídio / e um renascer / em signos
E esta para o Flávio:
Na falta de um
oceano, vai daqui este sumário aceno, grande
abraço.
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