quarta-feira, 29 de maio de 2013

noite de reis no planalto


... 
à ABL, com carinho


nem a indústria
nem o presidente
têm uso para versos
e vice-versa

seu tino político equivalente
ao de um intestino doente

de certo
querem que o poeta
limpe a merda

suas higiênicas páginas imaculadas
seus versos e lustres

...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

o vendedor de (editado por Diego Vinhas)

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da rua
o garoto diz        cândida


(não prevejo
na voz límpida
a rouquidão
ao final do dia

alguém
vende
outrem
usa

como se
o dever
de vender
produzisse
o bem                 
não bens

gerasse
venda
não vendas)


de casa
ouço      alvura
...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

meia-luz

...


para quem nudez
– estar nú –
fosse leveza de voo  
beleza de ave
vento no rosto

queda e tudo

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quarta-feira, 22 de maio de 2013

fim de expediente (editado por Diego Vinhas)

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o fim do expediente
verte gente
no deserto irrigado  

prédios
cactos
iluminados

o trânsito escorrendo
de mais um dia de trabalho
rumo ao
bueiro dos telejornais
sono dos justos e
mais um
dia de
trabalho

como

se o chão
não fosse
a condição
da Queda

o sol
um sinal
de trânsito

neste transe
de ser só um filho distante
de Adão
esperando a parúsia
fim
de outro
expediente

algo a ver com a melancolia
de lembrar um rosto mas
não
um nome

...

domingo, 19 de maio de 2013

Wallace e Immanuel concordam quanto à natureza de Deus

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We say God and the imagination are one . . .
How high that highest candle lights the dark.
Wallace Stevens





A consciência de estarmos permanentemente acossados por forças
superiores a nós, no plano fisico-natural, assim como a possibilidade
do colapso das representações, no plano das faculdades cognitivas (imaginação
e entendimento), constituem o momento negativo e preliminar
na experiência do sublime. Ao passo que o momento afirmativo, sem o
qual essa experiência não se completa efetivamente, enraíza-se na consciência
adquirida pelo sujeito de que, pela razão, consegue pensar o
infinito (isto é, consegue pensar o inapresentável) e consegue também
contornar, domesticar ou mesmo vencer as forças da natureza, a começar
pelo controle do próprio corpo com seus apetites desordenados. Se
a experiência do belo se dá na contemplação, diz Kant que a do sublime
se dá como movimento. O sublime é conquistado no decorrer da luta
com a negatividade. Na experiência do belo, o sujeito contempla e se
compraz com sua capacidade de produzir formas. Na do sublime, ele se
orgulha do fato de que a Idéia (produto de sua pura liberdade) supera a
Coisa (a contingência incognoscível da matéria). Resulta que o sublime
kantiano é o sentimento de prazer muito solar, muito confiante e iluminista,
ocasionado pela constatação de que o poder criador da razão
humana é tão forte que pode circunscrever pela forca da idéia as
ameaças representadas pelo Outro dessa razão - a corporal idade
animal, as catástrofes naturais, os abismos e a morte, o incomensurável
e a treva.

Kant fala numa destinação supra-sensível do espírito. Se todo
conhecimento humano passa necessariamente pelos sentidos (como se
pode ler na Crítica da Razão Pura, em concordância parcial com os
empiristas ingleses), o infinito, o todo absoluto, a força final da natureza
representam o limite do humano porque não podem ser objetivados como
fenômenos - são realidades supra-sensíveis. Mas é aí que entra a Razão,
como faculdade superior do sujeito transcendental. Ao contrário
da imaginação e do entendimento, que só funcionam a partir dos dados
por assim dizer processados pela sensibilidade, a Razão consegue estabelecer
comércio com o supra-sensível porque ela própria é supra-sensível.
A confiança de Kant é tanta que, através da conexão entre sentimento
sublime, razão e supra-sensível, ele comete a ousadia (sutis
ironias da Terceira crítica ... ) de igualar e até inverter a relação entre o
humano e o divino, praticamente colocando, já na Analítica do Sublime,
a hipótese do Deus judaico-cristão como subproduto da Razào.

(Italo Moriconi, Quatro [2+2] Notas sobre o Sublime e a Dessublimação, Revista Brasileira de Literatura Comparada n.4)

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quinta-feira, 9 de maio de 2013

cor

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Você era mais do que isso
ou sempre toda e só sorriso
que penso ter visto e agora lembrar
mas já lembrava quando pensava ver,
ter.

Só temos a memória, isto é, a tristeza
de só termos a perda.

Se somos algo, somos a perda para alguém,
o que, ao menos, é mais do que nada ser.

Por isso temos de cor um olhar, um sorriso
– um você, digo.


...
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