uma pomba pousa

...

uma pomba pousa (uma pomba morre)

na janela

atraída por uma pomba (uma pomba morta)

na televisão

um gato se sobressalta

ao ouvir imitação

de miado

uma pomba voa (uma pomba vive)

para o céu

repelida (ressuscitada)

por uma bomba

um cachorro (um cachorro surdo)

late para outro cachorro (um cachorro mudo) que

late para outro cachorro (um cachorro surdo) que

late para outro cachorro (um cachorro mudo) 
no espelho

um homem

vê a si mesmo que

vê a si mesmo que

vê a si mesmo 
ad absurdum

um homem (outro) foge de uma arma de fogo

um cachorro lambe o cano e os ferimentos

...

elipse

...

a

[zeugma*]

introduz

a outridade

na perfeição

do círculo

*Figura pela qual uma palavra, expressa em determinada parte do período, é subentendida em outra(s) parte(s), posterior(es) ou anterior(es) àquela. (Aurélio)**

**vide título

...

desatino

...

Mãos

como pinturas,

possuem pele;

como esculturas,

unhas;

como textos,

linhas –

morte,

vida,

o des(a)tino

na p-

alma.

...

anáglifopoema – para ser lido com óculos 3D, esforço e dicionário

femeada de si mesma

deusa hiemal

ir-mã-

e

anima-

l

ana-

geot(r)óp(t)ico

ger-

atriz

a(stro)-

lógica

  

anágl-

i(n)-

fo-

rm

a-(pro-

fu-   n-  da-)

cio-

(a)nal

anagno(poe)sia

...

pogrom

...
...

há certa necessidade hebraica

em saber que a pobreza ara pés de andarilhos

para lavra de varejeiras –

divindades de merda

o meu amor na luz redonda

do lado convexo

de uma colher de alumínio

não se tornou

inoxidável

(o seu também não se tornará)

no 8º dia

cultivadas com esmero etílico

larvas foram lançadas em abismos

de sacos de lixo –

genocídio

anjos caídos

a falta de face na lembrança dos seus traços

me fez esquecer a criação e concluir –

o o-
culto no côncavo da colher

jamais será colhido

...

...