terça-feira, 27 de abril de 2010
inse(r)to (transcriação de "ain't", por Fábio Gullo)
uma formiga caminha sobre um teclado
não esmagá-la até que chegue à tecla END
por amor às simetrias
ain't
an ant walks over a keyboard
don’t smash it until it reaches the END key
for the sake of simmetry
às putas
às putas
pagar e limpar nosso prazer com papel
não com prazer
o que demonstra o valor da celulose
(crédito eletrônico deixa suja a fatura)
atrocidades
nefelibatas lá no céu,
unhas encravadas aqui na terra.
online, jogos sociais:
um, uma terra do nunca onde crianças
são proibidas de falar palavrões;
outro, a caricata disputa pelo poder
do tráfico na favela (novo axis mundi).
que os pequenos xinguem o universo,
já que os grandes insistem na propagação de atro
cidades
hermafrodita
descobri-la, morta, hermafrodita
como?
estivera sempre escondida
impossível
impossível é precisamente o quê, ao acontecer, se julga impossível
mas...
e o impossível imaginário? Sim, é impossível, mas potencial,
tornando-se atual apenas ao acontecer, assim mesmo, como se
os acontecimentos macroscópicos servissem também à ditadura
relativista-quântica, e o simples ato de tentar julgá-los possíveis
os tornassem impossíveis e vice-e-versa – ou, mais simplesmente,
como se fossem defuntos hermafroditas tornados mortos-
vivos na dúvida recorrente de com quê andamos fodendo todo esse tempo
segunda-feira, 26 de abril de 2010
smile face
para Alan Moore
in multimidia res perpétuo
porque gotas-começo e gotas-fim tornam-se
um só jorro-presente quando o tempo inveja a luz
aquele que prefere imagens a palavras (a[na]lógicas
mesmo em prosa palavras jamais alcançam alta-definição)
é o mesmo que faz (palavras) cruzadas à lápis
sente emoções via emoticons
e assistirá ao apocalipse catódico-cristão vestindo óculos 3D
(eis a imagem: o mundo acabando num ataque epilético
sob um sol estroboscópico com forma de :-)
sexta-feira, 23 de abril de 2010
verso vício
demora
mas quando você se vicia
em noesis
recorrer (não sem risco)
ao mercado negro da poesia
onde se traficam fartamente
trevosas idiossincrasias
quinta-feira, 22 de abril de 2010
magros, ricos e saudáveis
contra os inimigos magros
armar-se de colesterol
plantar McMinas em seus caminhos
praticar a política da boa vizinhança e dotá-los da tecnologia do delivery
se pobre
ficar contente em encontrar alguém com a tua mesma
roupa na festa em que se se apresenta como primo do nononono
quando doente
pensar na morte como uma enfermeira
não achar graça nas piadas dos que te consolam
consolar-se com a desgraça alheia
por outro lado
contra os inimigos gordos
confiar na infalibilidade dos ditados
se não pode vencê-los junte-se a eles
se rico
ficar triste se ninguém reconhecer a raridade do teu modelito feito
sob encomenda na festa em que se se apresenta como primo do prefeito
quando saudável
não pensar na morte (ou pensar sempre e confiar na sabedoria da propaganda que também segue os ditados:
viver cada dia como se fosse o último)
achar graça no humor negro dos teus bons amigos
invejar a graça alheia
sábado, 17 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
solda
o que o maçarico, const
ruído, cobra para a solda (à est[r]anho) de fios par
tidos, silencioso o sol dá (à fusão) à vig
ilha
dos vivos
quinta-feira, 15 de abril de 2010
obturador: exposição longa
abrir e não fechar mais as pálpebras (não
se abrem os olhos, assim como não se abrem
casas), ver o vaievem de pessoas até que
se tornem todas um só feixe furta-cor
até que se de(s)corem todos os preços e os
ciclos sazonais das promoções e últimas tendências
até que se compre(enda) a perimtranscendência
imóvel do concreto das fundações e do vidro da vitrine
onde se pode ve(nde)r até a própria aparência
sábado, 10 de abril de 2010
gotas d'água
Estão fazendo o melhor que podem. Mas são perigosos, porque suas leis não são as mesmas da cidade. Eles não foram iniciados na nossa sociedade.
Joseph Campbell, O Poder do Mito
para a minha esposa, Paty, que anteviu o símbolo
da diária
jor
nada
do jornal
(hábito a caminho do trabalho)
à auto-afirmação
(territorial?)
mandíbola
esteve aqui
(saudosista?)
do grafite adornado
por um saci
que desconfia da fumaça em $
transformado em serpentes
a chuva cessa na praia semi-deserta
onde uma palmeira esboçada
mas significativa como um angelus novus tropical
insiste em estender a androginia da água
ao jovem caído em suas raízes
(cachimbo em mãos)
assim como às poças paralíticas
nas quais assiste ao céu e a si
indiferente à comparação
com o mito de narciso
segunda-feira, 5 de abril de 2010
folhas brancas
a
luz
cinza
desta
distante
indistinta
tarde
cinza
faz
(monótona)
poesia
em
tudo
o que
ilumina
folhas brancas
sábado, 3 de abril de 2010
2
feto
o fato
(eu)
órfão
desde o verbo
falo
a fala
do inimigo
(sou)
a arma
paradoxo
oxímoro
dialoguerreio
sem trégua
sem o outro
aliado
sou lua
sem atmosfera
só poesia
no parque infantil
um encantamento e uma derrota:
aprendizes de circo treinam a felicidade
e conseguem só poesia
(pequeno milagre em meio à cidade)
Santos, Emissário Submarino, 2 de abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
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