segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

o asfalto que espera








cético ou crente

o homem apocalíptico

não vê o presente

do ser



sem nome

preciente

espera e quer

só sentido

que a raiz que racha o vaso

não seja heróica

mas ignorante do asfalto

que a espera embaixo





(imagem por Erik Johansson)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

substantivo





genocídio

seu significado

este pensamento tão pragmático

que soube ser cético

e tornar-se simultaneamente sensível

que soube expressar-se até

sentir-se excessivamente preso

à conjugação de verbos no infinitivo

preso a ponto de desejar a liberdade da solidão

própria dos substantivos finais

dos desejos cruéis

das coisas que simplesmente são

e não admitem em sua opacidade

o brilho de variações

possibilidades





porque faço poesia





ao escutar somente

palavras

não pessoas

torno-me assassino e suicida




uma máquina mais complexa

também

porque faço poesia




quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

mito gnóstico sanitário







sob um sol templo

a transparência das verdades

sou espelho

vaidades




eu

imagem

que embaço com o bafo

quando me aproximo

e a contemplo



que esboço descuidado

no vidro esfumaçado

ponta de um dedo

feito de barro




golem efêmero



demiurgo de banheiro






segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

1





um pombo alumínio

deflete ideias

transmuda em insônia

por arrulhos

na memória

decaimento de nomes

faces




no cheiro de hospitais

eternidade







quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

sos




enquanto o mar sereia-me

busco a bala perdida de um verso

que fulmine indiscriminadamente

– sacrifício discreto –

e traga-me de um surdo o alívio da vigília

de um cego o escuro dos sonhos



compor com necessidade binária

– crer em variações –

é função matemática, matéria de máquinas;

nós que somos nós

acreditamos em invenções

no que estamos sós




quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

açougue de signos




nada existe

neste açougue de signos

de mais real

que a carne


a poesia mesma

– plena ainda de comparações –

é vista como

peça de primeira

digna sim

mas de esquartejamento e reasemblage

em embutidos e salsiccias

cujos ingredientes levam de tudo

dizem até que

– pasmem –

palavras


quanto à morte da poesia

perguntar ao legista




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

o pescador e o anzol




à beira do pier

o pescador lança o anzol

rasga-me porque não sou como si

mas lava-me o sol



Related Posts with Thumbnails