cético ou crente
o homem apocalíptico
não vê o presente
do ser
sem nome
preciente
espera e quer
só sentido
que a raiz que racha o vaso
não seja heróica
mas ignorante do asfalto
que a espera embaixo
(imagem por Erik Johansson)
genocídio
seu significado
este pensamento tão pragmático
que soube ser cético
e tornar-se simultaneamente sensível
que soube expressar-se até
sentir-se excessivamente preso
à conjugação de verbos no infinitivo
preso a ponto de desejar a liberdade da solidão
própria dos substantivos finais
dos desejos cruéis
das coisas que simplesmente são
e não admitem em sua opacidade
o brilho de variações
possibilidades
enquanto o mar sereia-me
busco a bala perdida de um verso
que fulmine indiscriminadamente
– sacrifício discreto –
e traga-me de um surdo o alívio da vigília
de um cego o escuro dos sonhos
compor com necessidade binária
– crer em variações –
é função matemática, matéria de máquinas;
nós que somos nós
acreditamos em invenções
no que estamos sós
nada existe
neste açougue de signos
de mais real
que a carne
a poesia mesma
– plena ainda de comparações –
é vista como
peça de primeira
digna sim
mas de esquartejamento e reasemblage
em embutidos e salsiccias
cujos ingredientes levam de tudo
dizem até que
– pasmem –
palavras
quanto à morte da poesia
perguntar ao legista