Nossa música 
Uma vez
atendido o alarme falso da sineta noturna - não há mais o que remediar, nunca
mais. 
KAFKA, Um médico rural
Na fila da casa noturna
(ao menos uma vez por dia, toda casa é noturna),
rapazes e moças voejam  
como moscas atraídas 
não pela luz ultravioleta – 
a beleza possível de uma impossível luz negra
(nalgum lugar de SP, hoje em dia ou em 1970) –,
atraídas, talvez, pela promessa de uma cor ainda mais obscura –
agora a beleza possível de uma luz invisível 
(a cor da cidade – o ultraviolência) –,
cor além do espectro insensível, 
chegando às raias do martírio – acima, o teto de todos –, 
cor sob a qual o piche borbulhante dos nomes,
passando pelos estados som, dança, pele, rua,
galvaniza-se num só órgão adjacente ao asfalto: 
homem.
Fora, no entanto, o relento é febre, no concreto;
doenças do corpo e da alma os únicos rebentos 
de relações sem proteção – todas o são, mesmo 
se resultam em carnes e esqueletos...
Assim, (d)o nada assoma: no som onipresente, 
(o) tudo, só, 
some... apesar de alguma ternura, ainda, 
no álcool de um primeiro beijo
ao som da nossa música.
...
...
 
