terça-feira, 29 de janeiro de 2013

cremação

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todo funeral é irreal:
como o lamento do vento
ou o choro da chuva

só se refaz o real
quando desfaz o fogo
a ofensa do corpo


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(eu) interior

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onde ao desligar o rádio
ainda se ouvem trovões
e se veem raios


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gravidade zero

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um mundo sem gravidade
seus mares suspensos
em bolhas d’água
contendo povos e reinos

um mundo com gravidade
seus males com o peso
de histórias reais
contando guerras e feitos

num vivemos
noutro sobrevivemos


...

horto

...



Saturado por fora,
dessaturado por dentro,
morto no horto,
tigre e cinza;
os outros sobrevivem
aos olhares famintos de imagens,
que,
pena a pena,
pêlo a pêlo,
pouco a pouco
devoram-lhes as carnes,
as cores,
à força de fixar-lhes
os nomes científicos –
epitáfios apropriadamente escritos
numa língua morta
pelo próprio assassino.


...

imagem

...



a palavra, tímida,
esconde imagens ricas –
intimida

o vídeo, promíscuo,
revela imagens pobres –
intima


...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

eclip-se

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A verdadeira poesia
é um eclipse do ser:
em sua raridade
permite-nos ver,
ainda que por diversas vias
(sob a sombra das coisas
reveladas por palavras),
a numinosidade terrível
de um sol invisível.


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